quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Escolhas e Sacrifcíos...

Granito sólido, cinza, três metros e meio de altura, fora o pedestal. Altivo, semblante sereno, entretanto, nada de uma dureza alexrosseana que se poderia esperar. O artista havia captado, diziam alguns contemporâneos, com perfeição o herói morto.

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Um arco vermelho pintava o ar. Em breve o spray cairi, junto com a fonte da tinta. O que se ergueria, ainda estava por ser visto.

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A ameaça de atentado na inauguração havia chamado atenção além do museu, e havia enchido bastante de gente nas primeiras semanas. Mas agora a novidade havia se ido, e o público diminuído para o normal.

O jovem costumava se dirigir para aquela sala específica. Adorava a ala da Sociedade Defensora da América, mas o que curtia mesmo era a Aliança dos Heróis. Conhecia bastante a história de vários dos retratados ali, assim como o de seu líder e fundador.

Ficava em silêncio, admirando, uma fonte de inspiração.

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O azul do céu profundo, naquele outono de Nova York. Não fazia ainda tanto frio assim, embora o sentisse vindo, cada vez mais perto, como se querendo confortá-lo. Aconchegante.

Mas não, aquela garota do cabelo esquisito berrava algo que ele não ouvia, e estragava tudo.

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Havia uma ressonância qualquer naquela sala. Uma boa vibração, ou assim acreditava. Apreciava o silêncio particularmente aqui, neste ponto, quando não havia mais ninguém e ele podia apreciar a estátua do herói morto, em reverência quase religiosa. Talvez por ter a certeza daquele momento a sós que a estátua virou seu enorme rosto para ele e lhe disse:

- Não, não: ainda não acabou! -- e com um breve impulso, partiu em um facho roxo para o alto e avante, contra um teto que não era mais teto. Não era nada.

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Seus olhos reviravam, o céu azul perdendo o sentido, e virando algo negro além da ausência da luz. a linha branco-roxa em altíssima velocidade contra tudo aquilo que era errado, pelo simples existir.

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A linha branco-roxa havia se perdido no grande nada, que colapsava sobre si mesmo, devolvendo o mundo logo abaixo uma nova chance pela sanidade.

- Não, não: ainda não acabou - repetiu a voz, incorpórea. Olhou ao redor e viu o rosto de pedra do herói morto definhando a olhos vistos, como uma uva-passa.

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Acordou mal sufocando um berro, e não era a primeira vez. A mão segurava, em forma de garra, o ventre incólume. As noites no Geodo não pareciam mais tão seguras, mas sim infinitamente mais solitárias.

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E nesta quarta houve mais M&M - Universo 73. Inspirador, como podem ver.

2 comentários:

Daniel Braga disse...

Muito bom! Muito bom!

Querendo ler mais:

Universo 73

Luiz Felipe Vasques disse...

E isto aqui é apenas o começo. Ainda não fechei o texto. Terminei pq, entre outras, tinha que dormir... :)