segunda-feira, 5 de setembro de 2011

DC Rio retornando...

... se tudo der certo, após uma estiagem duns dois meses.

Pensei num miniconto para meu personagem, o Invasor, um exilado de sua raça, os thanagarianos, neste mundo, após sua invasão (a cronologia é a do desenho animado Liga da Justica Sem Limites). Espero que gostem.

***

- Muito bem – perguntou o oficial thanagariano, divertindo-se em ver o fazendeiro humilhando-se, achando que tinha algum poder de barganha, implorando para manter sua fazenda –, o que você acha que pode oferecer de valor? Sua produção já é nossa, de qualquer forma. Seus homens são nossos prisioneiros. Você também vai sair daqui direto para o campo – acrescentou, sádico: - Não vai durar muito.

Vermelho, suado, o velho lançou a última cartada:

- Veja bem!... como prova de que sou de paz, e de que quero muito colaborar... eu ofereço o meu filho para ir no meu lugar!

A coisa mais simples do mundo seria levar os dois. Mas o oficial sorriu, estava em um bom dia. Achou divertido o tamanho da miséria da alma do velho. Aceitou.

***

O golpe revelou seu inimigo, mais do que pretendia. Imediatamente, suas roupas queimaram, ele livrou-se delas. Mas não atacou de volta. Ajoelhado, apenas protegeu seu braço agora quebrado.

A sanha vingativa do Invasor esfriou instantaneamente.

Sua pele não era mais pele, era algo se rompendo em feridas de luz vermelha. Mas podia ler ainda pelo braço a tatuagem laser original, em caracteres thanagarianos. Havia a chance dele próprio ter tatuado aquele ali.

- Queimar... todos queimam... eu q-queimo... dói tanto...

Não era um thanagariano. Não era uma fera de fogo. Não era sequer um metahumano. Era apenas o resultado de um experimento sádico.

- Eu... eu não consigo parar de queimar!...

O thanagariano, rosto à sombra do luar, impassível. A luz vermelha não revelava emoção alguma sob a máscara de pássaro.

- Você... veio parar a dor?

O punho segurando a maça cerrou-se ainda mais.

***

- Já é quase meio dia, cadê aquele alienígena? – perguntou-se o coronel Bastos pela décima vez. Mal humorado, não dormira. Ninguém dormira – o coronel, delegado João das Neves, e muito menos sua filha Maria – Eu devia era juntar meia dúzia de jagunços e sair atrás dele! – rosnou para o delegado, acusando-o implicitamente de incompetência. Claro, afinal isso deu muito certo da outra vez, mas o delegado não era burro o suficiente para dizê-lo em voz alta.

Estavam todos na varanda da casa, mais homens e empregados do coronel.

- Eu devia ligar pra capital!... Eu devia chamar o exército!... Eu devia... - um jagunço assustado o interrompeu puxando seu ombro, sem olhar para o patrão, que respondeu com um berro à insolência – O que é?!

Como meia dúzia de pessoas em uma varanda aberta haviam perdido um homenzarrão alado pousar em um árvore distando poucos metros, jamais conseguiram responder. Mas à sombra da copa, no galho mais baixo, encurvado a dois metros do chão lá estava o alienígena, sabe-se lá há quanto tempo, como uma ave agourenta, olhos indecifráveis por sob a máscara. O coronel Bastos engoliu em seco, mas não perdeu a pose.

- Ahn... e então? Conseguiu capturar o malfeitor?!

Após cinco intermináveis segundos, onde ninguém ousou dizer algo, ele se virou para Maria, fitando a jovem, que logo sentiu-se incomodada. Com um gesto anunciado, arremessou algo para ela, que pegou no ar. Não entendeu o pedaço de tecido queimado e malcheiroso, amarrotado embrulhando algo.

- A criatura que ameaçava a região não é mais problema de ninguém.

O coronel e o delegado se entreolharam, sem saber se realmente ficavam felizes com isto, sorrindo nervosos.

- Ora... isto é muito bom! - assegurou-se o coronel – Bom trabalho, er, rapaz!... creio que há uma recompensa para...

O grito de sua filha o interrompeu, assustando a todos. Olhava para sua mão, onde o tecido desembrulhado revelava um cordão, com dois corações de seixo, com dois nomes gravados: - Onde você achou isto?!

- Com ele – respondeu o Invasor, sem devaneios.

- Ora, mas o que... o que signifca isto, agora?!

- Papai! Você disse que Danilo estava seguro! - gritou Maria, as lágrimas descendo – Que mandou ele pra capital, que...!

- Quem eu encontrei foi um prisioneiro, um humano. Foi torturado, usado para experimentos proibidos. De alguma forma sobreviveu e fugiu quando a prisão caiu. Passou os últimos dois meses sozinho, enlouquecido. Com poderes que não pediu para ter, não os controlava, nem os entendia. Encontrei isto nos restos de sua roupa – olhou diretamente para ela – Parecia a única coisa que ele dava valor.

- Ora, eu não sei de nada, minha filha! Ele deve ter pego isso do pobre... - engoliu as palavras. Seria demais, até para ele - … Danilo não era bom para você, Maria!

Com um urro de ódio para o pai, a garota corre para longe dali.

- Você é o oficial da lei local, não? - perguntou o thanagariano. O delegado, ainda aturdido pelos acontecimentos, apenas piscou. Olhou para o coronel, sem saber o que fazer. Era o coronel, bem ou mal. Não esperou resposta. Preparou-se para alçar voo – Típico.

- Ora, moço, espere ai! Quem você pensa que é, aparecendo aqui e fazendo essas acusações?!

Por cima do ombro, lançou um olhar para o homem de meia idade, que calou-se imediatamente.

- Eu sou apenas um invasor.

Decolou, e nunca mais voltou.


***