É da natureza das rodas de rpg uma certa instabilidade.
Para um hobby ocasional, elas dão muito trabalho e pouca compensação, entre fazer personagens, conhecer as regras, mestrar e finalmente curtir a aventura/história a que se propõe - e aí joga-se uma vez, quiçá duas, e nunca mais se ouve falar daquilo: agora com as plataformas online como Roll20, o grau de tempo de aprendizado investido é pior ainda.
Leio sobre rodas dum mesmo universo de campanha - alguma variante de D&D, via de regra - que estão sendo jogados desde praticamente quando o rpg passou a existir. Seus participantes alegam que começaram ainda crianças e nem ter tido crianças - e casamentos, divórcios, mudanças de emprego, etc. (ou seja, VIDA) - pararam. Já teve trocentos personagens assim como jogadores, mas a tocha continua sendo passada. Confesso que já desisti de esperar por algo assim (ou menos rs).
As rodas mais longas com que me envolvi demoraram dois anos, talvez três, até que algo acontece: em geral, brigalhadas/desentedimentos. A mais recente é a de Phandelver, em breve Arthlas das Montanhas deve ir pra criogenia, mas ainda aguardo. Seguido por Lucian, mas que por questões de horário, não tive mais como jogar. Arthlas era para a pipoca que Phandelver se propunha a ser, Lucian tinha época que o considerava meu main, em uma campanha com mais níveis de inerpretação, digamos. Inspirou-me alguns textos (é, eu escrevo). Desse eu vou sentir falta.
Olho justamente pro setor de criogenia (na coluna ao lado, se vc não percebeu). Tem personagens que não me recordo ao certo, a essa altura. Outros, que foram meu signature character. American Atlas sobreviveu por duas rodas de Aberrant, de dois GMs diferentes (curiosamente, um deles o de Phandelver), era a massa de músculos e algum cérebro até dessas rodas de supers, além de ser (mega-)carismático e ter muita, muita grana. Brix Rouel era de uma ambientação urbana do GM para Exalted (uma cidade substituindo a Thorns no mapa desse jogo), um ladrão-de-casaca que roubava dos ricos para dar aos pobres que eu tbm gostei horrores de jogar. Mas desentendimentos cansaram o GM, que não tem planos pra retornar ao jogo, e se retornar (ou, segundo ele, quando retornar) haverá um certo grau de reset na campanha. Talvez ano que vem, difícil dele mesmo saber agora. Ou seja, algo terá se perdido. Paciência.
Uma roda de rpg é como um ritual de re/criação coletiva. Não nos referimos a alguma ancestralidade, repetimos as memórias do povo, entoada em cânticos ou mesmo dançada - mas é uma interpretação de um mito inédito, uma evocação ali, na hora, um contar de quem não está lá: seus feitos, falhas, sucessos, desastres, vitórias e derrotas. O ritual deve ser esporádico, entendo como validação de ser um ritual, ter alguma constância. Quando não consegue, na verdade obtém-se abaixo do que poderia oferecer*. E quando termina antes do programado, pela razão que for... é aquela ausência notável exatamente por algo - ou alguém - que não mais está lá.
Alguma solução? Não, nenhuma. É partir pruma próxima, observar o que deu de errado na última e, quem sabe?
*Claro, nem toda roda precisa ser algo além de um lanchinho descartável. A ideia, por diversas vezes, é realmente essa, e está tudo ok: lembrem-se, a única maneira certa de se jogar RPG é se divertindo. Se não está sendo divertido, cabe pensar o motivo, e motivos, não faltam.
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